quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Liberdade

Sempre fui muito dada a procurar respostas para as infinitas dúvidas quanto à misteriosa e, por vezes, complicada existência humana. Sempre li e estudei muito sobre filosofia. Desde Sócrates, Platão, Aristóteles, os pessimistas existencialistas, como Schopenhauer,Hegel, Sartre, aos espiritualistas como o PHD em filosofia, Dr. Masaharu Taniguchi, sempre fui em busca de respostas. Em meio a esses estudos, encontrei uma teoria muito interessante, que diz que todos nós possuímos cinco desejos profundos que são inerentes à alma humana:

1- ser reconhecido
2- ser útil
3- ser elogiado
4- ser amado
5- ser livre
(PHD. Dr. M. Taniguchi)

Quero falar aqui um pouco sobre LIBERDADE, sobre esse desejo tão profundo que sentimos de ser livres...
Desde muito pequenos sempre ensinei aos meus filhos um pouquinho do conceito que eu tinha sobre a liberdade, de maneira, é lógico, compreensível para eles. Eu dizia que a nossa vida é como um campo de futebol,e desenhava este campo de futebol, dividindo-o em duas partes, com um risco no chão demarcando cada lado. Um lado, te pertence; ali está você, com a sua vida, e dentro deste pedaço você pode fazer tudo o que quiser; é voce quem decide, é voce quem manda, é a sua vida. Do outro lado, está uma outra pessoa, dono daquele espaço, onde é ele quem manda, é ele quem decide, é a vida dele. No entanto, a sua liberdade de agir, de fazer o que quiser poderá ir até onde começa o campo, o espaço do outro, até àquela linha dividindo o campo de futebol, riscada no chão. Se voce, com as suas atitudes,com a sua liberdade de agir, invade o espaço do outro, passa da linha demarcada no chão, isto poderá ocasionar sérios conflitos, muitos problemas.
É claro que de uma maneira muito simplista, eu ensinei aos meus filhos o (meu)conceito sobre liberdade. De vez em quando, agora já jovens, eles ainda comentam comigo sobre o desenho do campo de futebol...

Há tantas histórias, até mesmo muito dramáticas, sobre a luta para a conquista da liberdade. Quantos já não morreram em batalhas, guerras e lutas em busca da tão sonhada e encantada LIBERDADE...quantos heróis não se fizeram imortais em busca dela...
Mas...para mim...a verdadeira liberdade está na mente, está na alma...e é individual...solitária...eu, comigo mesmo...por mais que se liberte uma nação inteira, um povo todo, se voce não se sentir livre, na sua alma individual, de nada adiantará a liberdade coletiva...não há liberdade coletiva...

E a minha liberdade individual deve respeitar, inexoravelmente, a liberdade individual do outro. A liberdade individual não deve jamais causar dor, sofrimento e mágoa à liberdade individual do outro...
Se em algum momento a sua liberdade de agir causa dor e sofrimento ao outro, neste momento, neste exato momento, voce deixará de ser livre...
Como dizia Saint Exupérry, "Voce se torna eternamente responsável por aquilo que cativas..."

A liberdade nao é algo tão simples e fácil assim... Dentro dela mesma, existem restrições, existem regras a serem seguidas e obedecidas...só assim voce conseguirá alcançar definitivamente a verdadeira liberdade...a liberdade da alma, a liberdade da mente...não existe outra maneira possível...de voce ser livre...

"A grande meia verdade: LIBERDADE." (William Blake)

Sempre me indaguei porque um grande número de gènios, artistas e intelectuais imortais, tiveram uma vida tão turbulenta, muitas vezes morrendo de maneira tão trágica...pessoas tão especiais, que deixaram coisas maravilhosas para a humanidade, como as artes, a música, a literatura, a contribuição para a própria evolução humana...porque não conseguiram ser felizes?...
Pesquisando sobre isso encontrei uma opinião que me deixou pensando...
"Essas pessoas tão especiais, na maioria das vezes, são pessoas também de extrema sensibilidade. Mas são também pessoas bastante egocêntricas, que falam e dão opinião sobre tudo. Vivem como querem, cultuando e divinificando a LIBERDADE. E em nome desta,agem como querem, vivem como desejam, escrevem o que acham que deve ser escrito,sem se preocupar com o alcance que isto terá, ditam conceitos e maneiras de viver, padronizam modelos de comportamento, rotulam e conceituam a LIBERDADE, da maneira como eles acham que deva ser...
Mesmo que entendam por LIBERDADE, viver uma vida de excessos, bebendo sem limites, se drogando e praticando sexo subversivamente...
Não estariam eles confundindo LIBERDADE com LIBERTINAGEM...???
Mas, quando essas mesmas pessoas são colocadas em cheque, criticadas, não ouvidas, não aceitas, não correspondidas quanto às suas expectativas, tendem a se vitimizar, achando que o mundo não as entende, não as ama, não as quer e então, se entregam ao martírio, à desolação, e muitas vezes, às drogas, ao suicídio lento, à morte..."
Essas pessoas jamais conseguiram ser realmente LIVRES...com certeza invadiram "o outro lado do campo, não respeitaram o risco no chão delimitando o seu espaço, certamente feriram, machucaram, magoaram, agrediram o outro, e com isso, cercearam a sua própria liberdade individual..."
Na verdade, elas jamais foram livres...desconheciam o que era a VERDADEIRA LIBERDADE...
Nós podemos ser livres...alçar vôos fantásticos...interiorizar a Liberdade...vivenciar o espetáculo da sensação de ser livre...conquanto se respeite às leis para se alcançar essa VERDADEIRA LIBERDADE...

Não magoe...não agrida...não fira...não cause dor...não cause sofrimento...não deixe o outro chorar dolorosamente por sua causa...nunca, jamais...

Sonhe...viva...ame...voe...seja feliz...faça o outro feliz...
Sinta a LIBERDADE...seja livre, respeitando sempre a Liberdade...!!!...



LIBERDADE PARA TODOS...

Desde a minha adolescência sempre fui muito presa...
Engraçado, porque toda a minha infância, que passei no interior, cresci correndo nas ruas, subindo em árvores, andando de bicicleta, brincando de roda ou passa anel, jogando bandeirinha ou queimada nas ruas com meus amigos. Mas, quando chegou minha adolescência, as portas se fecharam e me vi extremamente presa, tolhida, acuada.
Meus amigos meninos da vila dos Sargentos, se vestiam com uma jaqueta preta que era a moda do momento, imitando John Travolta, do filme "Grease, nos tempos da brilhantina". Ficávamos todos reunidos na esquina, conversando, trocando idéias, como todo adolescente normal...de repente, chegava meu pai, descia do carro muito bravo e me levava na marra, me puxando e enfiando no carro, berrando e brigando comigo...chegava em casa e às vezes, apanhava...

O que é que eu estava fazendo de errado...????

Fui uma menina muito tranquila, filha de pais muito religiosos, ia à missa todo domingo...não tinha maldade na cabeça, e geralmente, pelo menos antigamente, adolescentes do interior eram bem ingênuos, para não dizer, puros...

De um pai carinhoso, atencioso e amigo, de repente para um pai incompreensível, sem diálogos, e muito duro comigo...minha mãe permanecia à parte, sem intromissões, invisível...tudo ia bem se eu fizesse tudo como eles queriam...

Na minha adolescência, já aqui em São Paulo, dei muito trabalho...
Sozinha, sem orientação, sem diálogo com pais, tive que enfrentar esta selva de pedra, sem nenhum preparo para a vida, imatura, pois não me ensinaram a crescer...

...E assim eu cresci...até meus 23 anos continuei presa, tolhida do meu direito à liberdade...

Com 23 anos me casei, e foi só aí é que iniciei a marcha para o meu crescimento, rumo à maturidade. Mas somente o Universo Cósmico e silencioso acompanhou e testemunhou essa lenta, dura e sofrida caminhada pela estrada da vida.

O que eu aprendi com tudo isto???...o valor que a liberdade representa na vida do ser humano, independente da sua idade...

Devemos aprender a amar e respeitar a individualidade de nossos filhos, sem jamais tolher à sua liberdade...
Devemos dialogar, ao invés de proibir e repreender...
Devemos confiar cegamente em nossos filhos e demonstrar em palavras e atitudes essa confiança...
Devemos ensiná-los o caminho das pedras, para que sofram menos nessa vida...mas também devemos deixar eles escolherem o caminho que desejam seguir...
Muitas vezes é necessário o sofrimento para que o aprendizado seja maior...muitas vezes nossos filhos precisam passar por experiências difíceis para serem melhores como seres humanos...

Mas, ensine-os a crescerem, a se tornarem responsáveis e maduros, para que durante a vida, eles saibam sempre decidir qual caminho a seguir...

Nunca probi meus filhos de nada...a primeira balada deles foi com 12 anos de idade. Não me importava onde eles estariam, mas sim, com quem estariam, quem eram seus amigos e companheiros, e quando eu não gostava de algum amigo, orientava-os com amor, sem contudo, proibir-lhes a amizade. E de repente, eu percebia que eles já haviam se afastado de amizades que eu não gostava. Nunca proibi cigarro, bebidas e drogas. No entanto, sempre procurei lhes mostrar o fim das pessoas que escolhiam tais caminhos...e realmente, eu nunca vi ninguém se dar bem por escolher tais caminhos...
Uma ou outra vez que chegaram bêbados, acolhi-os com amor, e novamente me dispus a lhes orientar, com muita paciência e amor...
Quanto à sexo, sempre orientei os meninos quanto ao perigo das doenças, de engravidar alguma menina, o quanto isso poderia prejudicar as suas vidas, e também à prática do sexo seguro, com camisinha.
À minha filha também não proibi o sexo, mas a orientei quanto, principalmente, a tristeza e culpa de se fazer um aborto. A mulher que faz um aborto jamais se perdoa e para sempre perde sua liberdade espiritual, pela culpa e remorso, não se permitindo jamais ser feliz...
Sexo não é sujo, não é pecado...é puro, terno, sublime...faça-o com responsabilidade e com amor...

Meus três filhos estão saindo da adolescência e bem pouco trabalho nos deram...tiveram amor, carinho, compreensão, perdão, e principalmente, muito diálogo e confiança...

Digam sempre aos seus filhos: "Filho, eu te amo! eu confio plenamente em você! sei que voce saberá decidir o caminho melhor a seguir..."

Tome consciência: seus filhos não são seus...são emprestados...

Eu li em algum lugar: "Algum dia lhe será perguntado: -O que fizestes com os filhos que lhes dei (emprestei)?"

Pais só existem para que nos momentos difíceis que nossos filhos venham a passar, tenham onde se consolar, se recarregar de forças, ter fé e coragem para continuar a seguir com confiança e ter a certeza e a convicção que no fim a vitória é certa...

Li também, em algum lugar: "Pais ajoelhados orando, filhos em pé, caminhando..."


Pais, aprendam com os seus filhos!...filhos, aprendam com os seus pais!


Pais, se necessário for, peçam perdão aos seus filhos...pais também erram...
Filhos, se necessário for, peçam perdão aos seus pais...filhos também erram...


Pais, se necessário for, perdoem aos seus filhos; dêem-lhes a liberdade de errar...
Filhos, se necessário for, perdoem aos seus pais; eles, mesmo sendo pais, também possuem a liberdade de errar...


E, todos, devemos aprender e evoluir com nossos erros...

Texto escrito por: Lizete Ferraz

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