domingo, 5 de agosto de 2012

Literatura: "O Mar" - J. Banville




Há muito tempo, sempre que posto algo sobre cinema, alguém me pede para indicar livros também.  
Eu já fiz vários posts de literatura, mas indicando especialmente os livros clássicos. Resolvi então, indicar livros que leio e que são sucessos nas redes de críticas literárias, pois assim, divido com eles a responsabilidade (risos).



O mar - John Banville

Foi o primeiro livro que li dele, e me causou profundo encantamento. É um romance descrito com tanta sensibilidade, intensidade e ao mesmo tempo, uma delicadeza e beleza de narrativa, que me deixou a sensação de um romance mágico.

Max Mordem, após a morte de sua esposa, parte para uma cidadezinha da Irlanda, uma estância balneária, onde passava as suas férias com  a família na infância e na adolescência. Observava com um certo deslumbramento a família dos gêmeos Myles e Chloe, os Grace, uma rica e palaciana família do lugar. E é este lugar, tendo como fundo o mar, que chamará profundas recordações à Max, como a admiração secreta que tinha pela mãe dos gêmeos e a relação que chegou a ter com a fria e distante Chloe.  Na narrativa que nos leva do passado ao presente, e ao inverso também, conheceremos Ana, sua esposa que morre doente, sua filha misteriosa Rosa e mais alguns personagens, alguns estranhos e curiosos, outros fascinantes e  engraçados.  Viveremos com Max, através de suas recordações de gestos, olhares,  acontecimentos, imagens, frases, visões, dores e perdas do passado, e no presente, a perda de Ana, sua esposa, um  profundo questionamento sobre a vida, mas sobretudo, sobre a morte, mostrando o quão pequeno é frágil pode ser o ser humano, ante a vida e ante a imensidão do Mar. Um belíssimo livro de Banville, premiado com justiça.




Abaixo, um trecho do início do livro:


Os deuses partiram no dia daquela maré estranha. Durante toda a manhã, sob um céu leitoso, as águas da baía foram subindo, subindo, atingindo alturas inauditas, com pequenas ondas lambendo a areia ressecada que, por anos a fio, não soube o que era umidade, a não ser pela chuva, e chegando até a base das dunas. Os despojos enferrujados do velho navio encalhado lá na entrada da barra, e que, para qualquer um de nós, estavam naquele lugar desde sempre, devem ter achado que tinha chegado a hora de voltar a navegar. Depois daquele dia, nunca mais nadei. As aves gritavam e mergulhavam do céu, parecendo perturbadas pelo espetáculo daquela imensa bacia cheia de água que inchava como uma bolha de um azul quase chumbo malignamente reluzente. Naquele dia, os pássaros estavam mais brancos, com uma cor nada natural. As ondas iam deixando uma faixa de espuma amarelada na areia. Nenhuma vela manchava a linha do horizonte. Não, não voltei a nadar depois desse dia. Nunca mais.
Acabou de passar alguém sobre o meu túmulo. Alguém.
A casa se chama Os Cedros, como antigamente. Um punhado eriçado dessas árvores, de um marrom cor-de-macaco, um cheiro rançoso de resina e os troncos assustadoramente retorcidos, ainda cresce à esquerda da casa, diante de um gramado maltratado que fica defronte da grande janela abaulada do cômodo que era a sala de visitas, mas que Miss Vavasour, como boa profissional do ramo, preferia chamar de saguão. A porta da frente fica do outro lado, dando para um pátio quadrado, recoberto de cascalho manchado de óleo, logo depois do portão ainda pintado de verde, embora a ferrugem tenha reduzido aquela pomposa grade a uma frágil filigrana. Fiquei impressionado ao ver como tudo mudou tão pouco nos mais de cinqüenta anos que se passaram desde que estive aqui pela última vez. Impressionado, e desapontado. Diria até horrorizado, por razões que não consigo descobrir; afinal, por que eu desejaria que as coisas houvessem mudado, logo eu, que voltei a viver em meio aos escombros do passado?
Não sei por que a casa foi construída desse jeito, de lado, com uma parede branca e sem janelas virada para a rua; talvez, em outros tempos, antes da construção da estrada de ferro, o traçado da rua também fosse diferente, passando bem diante da porta da frente. Tudo é possível… Miss V. é bastante vaga quanto a datas, mas acha que, de início, construíram ali uma casinha pequena, em princípios do século passado, quero dizer, do anterior, estou perdendo a noção dos milênios, e, depois, foram fazendo obras e aumentando a casa meio aleatoriamente ao longo dos anos. Isso explicaria o ar caótico daquela construção, com salinhas que dão passagem para outras salas maiores, janelas que se abrem para paredes cegas, e tetos baixos de ponta a ponta da casa. O assoalho de pinho dá um toque náutico ao local, assim como a minha cadeira de rodinhas, com encosto de ripas de madeira. Posso até imaginar um velho lobo-do-mar, cochilando ao pé da lareira, finalmente assentado em terra firme, e o vento do inverno fazendo as janelas baterem. Ah, ser esse marinheiro… Ter sido ele…
Quando estive aqui tantos anos atrás, no tempo dos deuses, Os Cedros era uma casa de veraneio, alugada por quinzena ou por mês. Todo ano, em junho, um médico rico e sua família estridente infestavam o lugar — não gostávamos dos seus filhos esganiçados, que riam de nós e ficavam nos atirando pedras, protegidos pela barreira impenetrável do portão. Depois deles, vinha um casal misterioso, de meia-idade, que não falava com ninguém e quase toda manhã levava, sempre de cara amarrada, o cachorro salsicha para passear, descendo a Station Road até a praia. Para nós, agosto era o mês mais interessante naquela casa. A cada ano, havia inquilinos diferentes, gente da Inglaterra ou do Continente; uns casais esquisitos em lua-de-mel, que ficávamos tentando espionar, e, certa vez, veio inclusive uma trupe de teatro ambulante que estava se apresentando na matinê do cinema do vilarejo, com o seu telhado de zinco. E, então, naquele ano, veio a família Grace.

Boa leitura! Um beijo com carinho!

7 comentários:

chica disse...

Esse mar me chamou...Adorei o resuminho e me parece ser bem legal!!! beijos,obrigado pela dica!chica

Anônimo disse...

mui grato pelos filmes
pelo céu de passarinhos
pelo pedaço do romance

mui belo

Luiz Alfredo - poeta

Blog Luz por Roberta Maia disse...

Adorei a dica de leitura!!!
Obrigada querida.
Beijinhos!!

Unknown disse...

Olá Liz!
Muito boa a dica do livro, nunca li, mas, me interessei pela leitura!
Vamos trocar figurinhas: Semana passada ganhei um livro muito interessante chama-se "O livro da Bruxa", achei o titulo curioso e comecei a ler, a leitura é tão envolvente que li praticamente em 1/2 dia rsrsr. Tráz uma história muito interessante sobre olhar a vida por outros angulos, tudo depende de como interpletamos. Vale a Pena conferir!
Grande abraço!
Li Barbosa
www.autoralibarbosa.blogspot.com

Unknown disse...

Olá Liz!
Muito boa a dica do livro, nunca li, mas, me interessei pela leitura!
Vamos trocar figurinhas: Semana passada ganhei um livro muito interessante chama-se "O livro da Bruxa", achei o titulo curioso e comecei a ler, a leitura é tão envolvente que li praticamente em 1/2 dia rsrsr. Tráz uma história muito interessante sobre olhar a vida por outros angulos, tudo depende de como interpletamos. Vale a Pena conferir!
Grande abraço!
Li Barbosa
www.autoralibarbosa.blogspot.com

Unknown disse...

Olá Liz!
Muito boa a dica do livro, nunca li, mas, me interessei pela leitura!
Vamos trocar figurinhas: Semana passada ganhei um livro muito interessante chama-se "O livro da Bruxa", achei o titulo curioso e comecei a ler, a leitura é tão envolvente que li praticamente em 1/2 dia rsrsr. Tráz uma história muito interessante sobre olhar a vida por outros angulos, tudo depende de como interpletamos. Vale a Pena conferir!
Grande abraço!
Li Barbosa
www.autoralibarbosa.blogspot.com

Unknown disse...

Olá Liz!
Muito boa a dica do livro, nunca li, mas, me interessei pela leitura!
Vamos trocar figurinhas: Semana passada ganhei um livro muito interessante chama-se "O livro da Bruxa", achei o titulo curioso e comecei a ler, a leitura é tão envolvente que li praticamente em 1/2 dia rsrsr. Tráz uma história muito interessante sobre olhar a vida por outros angulos, tudo depende de como interpletamos. Vale a Pena conferir!
Grande abraço!
Li Barbosa
www.autoralibarbosa.blogspot.com