quinta-feira, 26 de maio de 2011

Manoel de Barros


Com pedaços de mim eu monto um ser atônito.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
A inércia é o meu ato principal.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Por pudor sou impuro.
Não preciso do fim para chegar.
De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra
— Como um lápis numa península.
Do lugar onde estou já fui embora.

Manoel de Barros
Do:  "Livro sobre nada"
Image by: Ambra



Manoel de Barros nasceu em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, em 1916, onde passou sua infância. Aos 13 anos foi estudar num internato religioso no Rio de Janeiro. 

Em 1949 saiu do Rio e voltou ao Pantanal para tomar conta de uma fazenda que herdou do pai. Viajou por vários lugares do mundo e chegou inclusive a viver em Nova York, Paris, Itália e Portugal. Afastado dos círculos literários só começou a ter êxito ao publicar ar-ranjos para assobio, em 1980, com 66 anos.

Hoje, aos 93 anos, tem uma obra consagrada, com mais de 20 livros publicados e é considerado um dos poetas da língua portuguesa mais originais de todos os tempos. Se tiver oportunidade, não deixe de assistir o filme sobre sua vida "Só dez por cento é mentira". Você vai se emocionar...


Um comentário:

maria neusa guadalupe disse...

Amo esse poeta....não sei dizer o quanto...leio sua obra completa todos os dias..escolho um poema ao acaso..delícia pura....beijos tietes.