segunda-feira, 30 de maio de 2011

Racismo Negro...

Como eu já disse em outros posts, nasci em Campo Grande, MS. Venho de uma família grande. Minha avó materna teve 10 filhos. Era casada com meu avô, Júlio, que era gaúcho e descendente de alemães, que vieram para  o Brasil através de Portugal. Entre os 10 filhos, a maioria  nasceu muito branca, com cabelos claros. Acho que só duas tias tinham os cabelos mais escuros. Deixando claro, assim, a sua descendência, através da cor da pele e da cor dos cabelos. Eles se referiam entre eles como "a nossa raça". Cresci ouvindo este "rótulo".
Todos eram muito unidos e sempre estavam juntos, nos momentos de alegria e também, nos de tristeza. Mas havia um porém...a maioria deles era extremamente racista, não gostavam de negros. Entre eles, a minha mãe.
Não gostava de negros. Casou-se com meu pai. Que também não gostava de negros.  O resultado: nunca pude conviver com estas pessoas. Meus pais não me deixavam nem ter amizade com meninos e rapazes negros, pois eu poderia gostar de um deles, portanto, era melhor "cortar o mal pela raíz".
Nesse ínterim, minha avó arranjou uma empregada. Ela engravidou. O neném nasceu. Era negro. Bem negrinho.
A moça não tinha condições de criá-lo. Resolveu que deveria doá-lo para adoção.

 Minha avó resolveu adotá-lo.

Minha avó...Dona Virgilina...Dona Nega (que ironia este apelido...) para os mais íntimos...dona de uma coragem, de uma força...de uma sabedoria profunda...que eu não sabia de onde vinha...
Mas ela enfrentou os dez filhos (ou quase os dez) e o mundo...mas adotou o neguinho...o Davi...

Ambos enfrentaram muitas dificuldades...Davi cresceu entre nós...eu e meus primos, brancos, como todos da "nossa raça"...eu também, branquinha...pra não escapar à regra...por pertencer "à nossa raça"...

Quando estávamos todos reunidos, aos sábados ou domingos, nós crianças ficávamos juntas, brincando, correndo,  fazendo traquinagens...sendo crianças...
Minha vó chegava...com o Davi...com o negrinho...
Ele era criança... e também queria brincar...mas um dos meus primos, que era o mais velho e o líder do "bando" dizia: 'ele não entra nas nossas brincadeiras'...
E eu resolvia: "se ele não brinca, eu também não!"...e eu e o Davi íamos brincar, os dois, sozinhos...separados dos outros...
E assim nós crescemos...
Quando minha avó morreu, eu já morava em São Paulo, já era casada. Estava com 2 filhos pequenos e um na barriga, esperando para nascer...não pude ir vê-la...
Mas minha madrinha me contou um dia que ela morreu falando em mim...que jamais iria esquecer tudo o que fiz pelo Davi...
O Davi foi o grande amor de sua vida...um filho muito querido...se não foi o mais...é...o neguinho...com um monte de filhos brancos, era do neguinho que ela gostava mais...(ironia...destino...lição?...)

Tive meus três filhos, uma menina e dois meninos. Minha filha é a mais velha. Meus filhos cresceram sem preconceitos. Meus filhos "não tinham raça". A única coisa que eles cresceram sabendo é que eram humanos.
E que todos somos iguais. Cresceram sabendo que não importa o que o outro tem, mas o que o outro é.

 Hoje, minha filha tem um amigo. Ele é o seu melhor amigo. Quando ela está triste, é por ele que ela chama...ele sempre está ao seu lado. Ele é um menino lindo. Por dentro e por fora. Ele é negro. Negão. Ele é o Bira. Ou Ubiratan. Um menino doce, gentil, de uma alma imensa que mal cabe no seu corpo dimensional...




No meu aniversário, dia 26 de novembro, ele me deu um presente lindo, flores e uma carta...nela estava escrito o quanto ele nos amava, que éramos a sua segunda família...e agradecia pela maneira como o recebemos em nossa família...com amor...e muito carinho...


Amamos o Bira...é como um filho...


Embora meus pais tenham mudado muito, a vida foi dura com eles, quando veêm a Graziella com o Bira, entortam um pouco o nariz...mas aqui, agora, somos nós (meu  marido e eu, quem mandamos...)

Mas fico triste e não trato mais os negros como os tratava antigamente. Um dia levei meus filhos para cortar cabelo em um salão só para eles. O dono, negro, se negou a nos atender, porque éramos brancos...

Acho que, por tanto sofrimento que passaram, ainda passam, se tornaram amargos, fechados, recolhidos ao seu mundo...e por fim, extremamente preconceituosos...como os brancos...

Queria gritar para eles que existem pessoas como eu...que um dia amei um menino negrinho e cuidei dele como se fosse meu irmão...dividia meu prestígio e meu chicabom com ele...eu o protegi contra a maldade de outros seres, que ainda não compreendiam o que era Amor...
Mas hoje, encontro negros que são iguaizinhos àqueles que maltratavam o Davi....na ordem inversa...
Porque descer até eles? lá só tem escuridão...

Preconceitos, exclusões, rejeições, todos nós já passamos, independente de raça. Quantas vezes eu não fui tachada de caipira (pq vim do interior, jacuzinha, ingênua), de idiota (pela filosofia de vida que acreditava), de imbecil (por acreditar na espiritualidade) e tantas coisas mais. Mas a única coisa que fiz foi me afastar de quem não gostava de mim...eu não cedi a eles e me tornei arrogante e preconceituosa como eles...apenas segui em frente com a minha fé, minhas crenças, acreditando no melhor, na magia  e beleza da vida...jamais me sentindo uma injustiçada e desvalida...

Um dia, pode ter certeza, todos descobrirão, que todos somos iguais e UM SÓ, perante a Grande Vida do Universo. Que o valor de um ser não se mede pelo que ele tem mas pelo que ele é como ser humano. E acho que está chegando esta hora. Estamos atravessando uma era muito difícil na terra. Momentos de extrema purificação. Por isto, estes desastres e catástrofes onde morrem de centenas para milhares de pessoas por vez. Alguns ficam esperando pelo dia do juízo final. Isto não existe. Já acontece esta purificação na terra há algum tempo. E quem não compreende esta verdade espiritual, pelo menos se esforçar um pouquinho para se tornar um ser melhor, se envolve mentalmente com estas catástrofes enormes e serão levadas para outras dimensões onde lá todos pensam igual, negativamente.

Gosto dos negros, gosto dos amarelos, gosto dos vermelhos, gosto dos brancos e gosto de todas as cores da aquarela...do arco-íris...
Só não gosto de gente egoísta e preconceituosa, seja ela de que cor for...

Não sou nenhum santa...não sou nem um pouco perfeita...sou cheia, recheada de defeitos...sou um ser humano normal...apenas me esforço...a cada dia...a cada passo...para ser um pouquinho melhor...amar mais...odiar menos...perdoar mais...julgar menos...e encontrar no fim do arco-íris, em vez de um balde recheado de moedas de ouro, um pouquinho de paz e felicidade...

"Queridos amigos, amemos mais, uns aos outros...independente de cor, raça, ou posição social..."

Mãos do Bira e da Gra
Mãos do Davi e da Lizete (simbolicamente)...

Dedico este texto integralmente à minha avó Virgilina Borba Pereira, que foi quem me ensinou a amar...incondicionalmente...através do seu exemplo...

Beijos, com carinho!
Texto escrito por: Lizete Ferraz

7 comentários:

Poupée Amélie™ disse...

Olá! Obrigada pelas palavras tão carinhosamente registradas em meu cantinho. Estou numa fase difícil, tentando recuperar-me de uma separação.
Quanto ao seu post, posso dizer que a cor da pele de uma pessoa é o que menos importa. O caráter, esse sim, precisa ser branco: sem manchas, sem máculas, puro.
BeijO*

Grazi disse...

Mãe, parabéns pelas maravilhosas palavras que você escreveu aqui. Tenho ctz que muita gente vai ler e abrir os olhos com este seu post. Continue sempre escrevendo, gosto mto de ver você feliz. Te amo!

Ruan Rossi disse...

Independente da cor da pele,todos nós seres humanos temos algo em comum que poderá mudar o mundo ..O AMOR!..Somente ele unirá as pessoas,trazendo boas energias! ..SOMOS TODOS UM SÓ.

Um beijo Tia,

Te adoro muito !

CARLOS EDUARDO disse...

A cor, raça, etc., pouco importa, a verdade que somos seres espirituais, temos que aprender que a verdade é que habitamos o mesmo planeta na imensidão do Universo. As diferenças são nada mais que adaptações que a natureza criou para adequar cada qual as necessidades da região em que vive. Somos todos filhos de um mesmo DEUS, como nos ensinou o CRISTO em sua oração "Pai Nosso..." sem qualquer referência de cor, credo ou raça. Ninguém é melhor que ninguém somos todos iguais perante a DEUS "O Sol brilha para todos e ilumina a todos sem distinção"

Liz, te amo, você é uma pessoa muito especial, sensível, um espírito de muita luz, que me ensinou muito nesta vida, a qual trilhamos juntos há mais de 20 anos, você é alegria, o amor, a felicidade de nossa casa.

Milhões de beijos!!

PEPE

Anônimo disse...

KADU :

" Ele é o Bira. Ou Ubirajara. "

é UBIRATAN MÃE !!

hahah, enfim ..

parabéns pela inspiração, que acaba me inspirando tb !

continue assim sempre , te amo mãe !

beijinhos kadu

Unknown disse...

Texto emocionante...onde se fala de Biira se fala de amor, sinceridade, dignidade e muita paz...é isso q ele veio fazer aki na terra..além de anjo Negro..e lindo é dele que eu vejo o melhor sorriso sincero q uma pessoa possa ter. Mãe da Grazy Parabéns pelo texto hj eu posso dormir feliz em ler isso.

Ubiratan disse...

Tia, Amiga, Mae, Anjo... nao sei como posso explicar a emoçao que eu senti ao ler este post...nao existe palavras para descrever o mesmo. Estou emocionado ate agora... se eu tenho uma coisa a te dizer é agradecer por tudo, TUDO TUDO TUDO ! De verdade, por ter confiança em mim, e fazer da sua filha, MINHA MELHOR AMIGA ! TE AMO LIZETE !s2